O construtor e o hoteleiro – Parte 2

O relógio da sala 1 marcava exatamente 19h00 quando Mr. John sentou-se em frente ao senhor Garcia, nesse instante a mesa oval para oito pessoas pareceu grande demais aos olhos do hoteleiro. Imagens da sua infância invadiram sua mente, lembrou-se da primeira vez que pisou no lobby do hotel, tinha quatro anos e segurava firmemente a mão de seu pai. Ficou impressionado com o tamanho dos lustres e dos sorrisos estampados nos rostos de todas as pessoas que passavam por ele. Tudo no hotel era deslumbrante, tinha vontade de correr pelos amplos salões de festas, pular nas camas dos quartos, encher todas as banheiras e nadar dentre as guloseimas que os chefs lhe ofertavam.

Mas a melhor sensação era quando andava de mãos dadas com seu pai, era impressionante a segurança que esse contato lhe proporcionava. Podiam estar entre centenas de pessoas pelas ruas da cidade onde barrigas pretuberantes, colos com cheiro de mãe e olhares de outras crianças eram as únicas imagens que podia ver com seu pequeno tamanho. Olhar pela janela esperando ele chegar do hotel para depois, minutos antes do jantar, poder sentar no seu colo, abraçar apertado e dizer papai te amo e receber de volta as mesmas palavras. Antes de dormir, deitar na cama dele e depois sentir seus braços carregando-o de volta ao seu quarto, colocando com cuidado em sua própria cama, dando um beijo de boa noite. Mr. John sentiu-se privilegiado em ter tido uma infância feliz, com muito carinho e compreensão.

Olhando para o senhor Garcia, achou graça do seu rosto redondo, que lembrava o sargento do antigo seriado Zorro, interpretado ironicamente pelo mesmo ator da outra série que assistia na adolescência, Perdidos no espaço.
– Vejo que está feliz, Mr. John! Soube que os negócios caminham bem!
– Não posso reclamar, estamos superando as metas todos os meses e esperando a inauguração de seu hotel e por falar nisso, tudo dentro do cronograma?
Garcia abriu o jogo e contou todos os detalhes. Tudo caminhava para a abertura, os apartamentos estavam completamente prontos há muito tempo e passavam agora pela fase final de inspeção. Explicou que a melhor atitude que teve foi contratar desde o princípio, antes mesmo de iniciar o projeto, a empresa de consultoria hoteleira.
– Sou construtor de casas, edifícios residenciais e comerciais, não tive muito estudo e como desejava construir um hotel de primeira na cidade, nada mais justo do que cercar-me de profissionais experientes do ramo.
Garcia revelou que a partir daí, seguiu à risca todas as soluções apresentadas. A contratação do melhor arquiteto, decorador, a especificação dos detalhes e compra de equipamentos, tudo feito com base na experiência da empresa de consultoria.
– Fiz questão em não tirar ninguém de seu hotel, por isso contratamos uma consultoria de Recursos Humanos com ênfase em treinamentos e assim pudemos, como dizem vocês hoteleiros, capacitar todos os funcionários. Criamos novos processos de trabalho, sabe?

Enquanto o velho construtor falava, os pensamentos de Mr. John ficavam cada vez mais positivos, ele estava aliviado em saber que o homem tinha se preocupado em fazer o melhor e abrir um bom hotel, só isso já era um excelente sinal. A melhoria e não simplesmente a concorrência. Capacitar os colaboradores! E com antecedência! Investir e não apenas se preocupar em recuperar o investimento o mais rápido possível. Como numa resposta telepática, Garcia disse:
– Estou investindo milhões no hotel, sem financiamento, e o mais importante é que não tenho ganas apenas em recuperar o capital, sei que isso será em médio a longo prazo, mas poder oferecer um serviço condizente, ganhar novos mercados e atribuir o sucesso principalmente na qualidade dos serviços e dos produtos oferecidos por nós.
– Fico muito feliz em saber disso tudo, se me consultasse poderia ter contribuido de alguma forma. Quer ir até o lobby bar enquanto continuamos a conversa?, convidou o anfitrião.
Caminhando pelo grande saguão, Garcia explicou:
– Não quis incomodar, você já ajudou muito, tem o melhor hotel do estado, é um exemplo para todos e tem muito o que fazer. Esperei até agora para me aproximar de você e contar meus planos. Em relação as tarifas, vamos trabalhar com um segmento que não irá interferir com sua produtividade, podemos inclusive fazer algumas ações para melhorar o destino transformando-o num atrativo turístico, assim poderemos ampliar os mercados e trabalhar com um mix de hóspedes de turismo e lazer, o que acha?
– Claro, você já se associou ao convention bureau? Eles têm ótimas idéias, vou te apresentar o Thony, ele é fantástico…

Como num filme, a imagem dos dois entrando no lobby bar desaparece com um fade out. A próxima imagem é do garçom que sai do elevador carregando uma bandeja e se dirigindo ao apartamento 2113. De repente, escuta um grito feminino vindo da porta da suíte… A cena congela. Quem sabe um dia termino esse romance?! Boa semana para todos!

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