A correnteza do rio e as ignorâncias digitais e analógicas

Queria saber o que se passa na cabeça de alguns administradores que pedem para seus gerentes de TI bloquearem acessos à internet de colaboradores, sejam eles de nível gerencial ou funcional. Outro dia, um conhecido gerente geral de uma unidade pertencente à uma rede de hotéis me ligou e perguntou:
– Que raio é Klaatu Barada Nikto*?
– Ué, clica no link, lê e você vai saber!, retruquei.
– Ah, mas aqui no hotel não temos acesso aos blogs! Não há permissão!, respondeu.
– Como assim, não há permissão? Quer dizer que se quiser acessar o blog do Ricardo Freire para dar uma dica de viagem para um hóspede, não dá?, espantei-me.
– Isso mesmo.
– E se um hóspede quiser acessar um blog, não dá?
– Isso mesmo.
– Alguma outra restrição?
– Que eu saiba não.

Fiquei indignado pela atitude da rede em restringir o acesso e tornar viável um mau atendimento aos seus hóspedes. Olhei para o calendário e constatei: estamos em 2009, sim, data estelar dois-mil-e-nove. E aí lembrei de uma história que o Móris Litvak exemplificou um par de vezes.

Quando Moisés levava seu povo rumo à Terra Prometida, muitos do que o acompanhavam se lamentavam dizendo:
– Por que estamos aqui sofrendo, caminhando pelo deserto a procura de um lugar que não temos certeza que existe?
– É verdade!, dizia um ancião, pelo menos no Egito tínhamos o que comer, mesmo sendo escravos!
Moisés coçava a barba e na primeira oportunidade que teve bateu um papo com Deus.
– Não consigo entender por que eles reclamam agora que são livres!
– Não se preocupe, a solução é vagar 40 anos e esperar que essa geração passe para o segundo andar, a nova geração verá tudo com outros olhos.

Será que é isso que precisa acontecer? A geração pré-internet precisa estar a sete palmos da grama para que as coisas mudem? Ainda bem que não, a ignorância sempre existiu e continuará existindo, a ignorância pode ser digital ou analógica, mas a correnteza do rio vai levando tudo que encontra pelo caminho, troncos, galhos, gravetos, lixo… Tudo cai na cachoeira e nem todos voltam à tona. Afundam de vez. E aqueles que sobem à superfície continuam a jornada da vida.

Passado alguns dias recebi um texto muito interessante – O mundo conforme Casciari -de um escritor argentino fazendo uma apologia com a idade dos países. Muito engraçado e legal. Encaminhei para alguns amigos, entre eles o gerente geral da rede. Dois minutos depois, veio a mensagem de failure do e-mail. Abri e meu queixo caiu. A razão pela não entrega foi a seguinte: ESTA MENSAGEM ESTÁ SENDO BLOQUEADA PORQUE CONTÉM PALAVRAS PROIBIDAS . Quais palavras? Voltei e reli o texto e achei-as: masturba, peitinhos e mais algumas outras que qualquer adolescente conheçe. O texto não é pornográfico, mas, na cabeça do administrador… Aí só para conferir busquei uma foto de uma bunda feminina, copiei, colei no corpo do e-mail e vupt, mandei pro GG. E não é que ele recebeu? E viva a vida! Boa semana e tudo de ótimo! Fui!

* Ver post com o mesmo título

4 comentários

  1. Erika

    Peter,

    Otimo post sobre acesso a internet… na rede onde trabalho até as entradas USB e de CD-ROM foram desativadas. Acreditas?É.. eu também demorei a acreditar.

  2. Eduardo Maclean

    Bravo Peter!!

  3. Ari Giorgi

    Pete, seus blogs estão cada vez melhores…abraço

  4. Peter,

    Duas situações bem corriqueiras em nosso cotiadiano.

    A falta de consideração e respeito de algumas pessoas é incrivel, desde do fulano do supermercado até a dirteoria de grandes empresas.
    Não devemos ficar quietos e sempre devemos reclamar, pelo menos, na vida pessoal. Já na profissional o simples fato de comentar as verdades em uma entrevista de desligamento, pode gerar problemas futuros, principalmente em nosso pequeno mercado e digo por experiência propria.

    Abraços,

    Eduardo Melo

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